sexta-feira, 26 de outubro de 2012

AMAR ALÉM

 AMAR ALÉM

Querer amar bem mais do que mereces
Fez com que eu me perdesse, vou sem rumo,
Fazendo as orações, louvores preces.
Meus erros – não refugo – sempre assumo.

Bem sei que na verdade de pudesses
Não deixaria nem sobrar meu sumo,
Por mais que tanto amor tu me confesses,
Se eu for levar na fé, perdi meu prumo.

Por isso, companheira, fim de papo.
O amor quando se torna um velho trapo
Melhor é cair fora, eu te garanto.

Perdoe se algum dia magoei,
Mas tô de saco cheio, me cansei,
Nossa paixão secou, perdeu o encanto...

MARCOS LOURES

FIM DE ESTRADA

FIM DE ESTRADA

Procuro algum motivo para a vida.
E não encontra nada, nem vestígios,
Preparo dia a dia a despedida,
Evito dissabores e litígios.

A faca nos meus dentes; arranquei,
As garras; aparei, sigo indefeso,
Aguardo o cumprimento desta lei
Com peito carregado, quase obeso.

Minha hora de partir já se aproxima,
Eu sinto o trem chegando à estação
Preparo dos meus sonhos, a obra prima,
Ditames desta insana solidão...

E o fim da longa estrada vã, sombria,
Percebo qual bonança e calmaria...

MARCOS LOURES

AS PALAVRAS

AS PALAVRAS


Jamais deves lutar contra as palavras,
Apenas são amigas, nada mais.
E quando com carinho a terra lavras,
Produzes assim frutos magistrais...

A terra necessita no seu cio,
De bela adubação, carinho e esmero,
Não tente imaginar solo vazio,
A própria fantasia é teu tempero.

E quando, no final sentir o vento
Tocando em tua face mansamente,
Nunca resista ao doce movimento
Abrindo o coração, expondo a mente.

Quem faz a poesia sem segredos,
Supera de si próprio, tolos medos...

MARCOS LOURES

NUM ÁTIMO

NUM ÁTIMO

Descrevo o que minha alma transparece
Num átimo sou átomo ou gigante,
Fazer de cada verso reza e prece,
Não é uma atitude mais galante.

Fazendo no meu peito, um falso implante,
Ao novo ser vindouro se obedece,
Enquanto o velho morre, este farsante,
Um claro amanhecer, o jovem tece...

Já não suporto mais maturidade,
Sinônimo cruel do envelhecer,
Faltando pouco tempo pra morrer,

O que interessa agora, a atualidade.
Quem dera ser perene. Uma tolice...
O amor já não seria babaquice...

MARCOS LOURES

CANSADO DE BUSCAR

CANSADO DE BUSCAR

Eu falo dos amores como quem
Viveu tal esperança a vida inteira,
Cansado de buscar, não ter ninguém,
Apodreceu inerte esta roseira

Que um dia imaginei toda florida,
Perfumes invadindo a minha casa,
Assim também passei a minha vida,
Um pássaro podado e já sem asa

Cativo deste sonho, liberdade,
Amanhecendo só, bebendo o sol,
Imaginando plena claridade
Servindo – quem me- dera, de farol...

E trago no meu peito, a amarga treva,
Lá fora, eternamente sempre neva...

MARCOS LOURES

IMENSA ESCURIDÃO

IMENSA ESCURIDÃO

Há dias em que as nuvens tampam sol,
E a imensa escuridão; então me abraça,
O frio me convida a uma cachaça
No horizonte sequer algum farol,

A neblina descendo no arrebol,
A sombra de um alguém, ao longe passa,
A vida vai perdendo toda a graça,
Me sinto solitário feito atol...

E quando o desespero toma conta,
Por entre tantas trevas já desponta
O olhar quase felino e me inebrio...

Tu chegas mansamente e toma a cena
A noite que prevejo então amena,
E o solo antes agreste, está macio...

MARCOS LOURES

EXISTO, TEIMO E PENSO

EXISTO, TEIMO E PENSO

Se penso, em devaneio, borboleta.
Então vivo tão só alienada.
E faço um gargarejo, sem gorjeta
Viver? Sonho ou real, fim da picada!

Se de um lado otário o riso nasce
Do outro já sentindo uma facada.
É caro o preço de ser dono de tudo,
Mais caro ainda eu pago, se ter nada.

Até minha carcaça incomoda
Se fico estatelada na calçada
Bacana quer passar, fica trancada...

Melhor seria nem saber de nada
Fingir de morto igual o santo prega
E na primeira chance, a descarrega!

Ana Maria Gazzaneo

Pacífico cordeiro, um dia fui
E o lobo jamais perde algum segundo,
E enquanto em pensamentos aprofundo,
O mundo, engarrafado já não flui

E a gente vai tomando cada baque
Levando uma porrada aqui ou lá,
Porém sei que esta chance chegará,
Talvez a velha mula ainda empaque,

Mas sendo tão teimoso, no final,
Eu creio que esta história dará certo,
Por mais que eu viva agora num deserto,
Ter ideias te torna um anormal,

Resisto bravamente e dando um berro,
Soneto de protesto aqui encerro...